O inexplicável... explicado
As pessoas, depois de entrarem na nossa vida, nunca mais saem, nem com “ordem de despejo”. É assim com os pais, mesmo quando são contraditórios nos seus afectos para connosco, como com quem nos apaixonamos.
Pode parecer de uma grande promiscuidade interior, mas – ao contrário do que nos autorizamos a pensar – embora vivamos com alguém, vivem com essa pessoa e connosco todos aqueles que foram conquistando um lugar dentro de nós. É, aliás, saudável que assim seja, assim nós possamos comparar essas pessoas nos pequenos gestos, na forma como nos forma surpreendendo, no modo como ama ou se zangam.
Fazer por esquecer uma pessoa que faça parte de nós é como contar carneiros para adormecer: torna-nos mais despertos para ela e incomoda em vez de sossegar.
A melhor forma de se ficar preso a um pensamento é fugir dele. Sendo assim, esquece-se mais facilmente um namorado sempre que é relembrado e essas memórias nos balizam a expectativa e a exigência que iremos colocar noutras relações.
As pessoas guardam-nos a memória. São como um semáforo que se acende sempre que alguém que conhecemos mal se aproxima de uma memória que guardamos. Todos nós fazemos, intuitivamente, isso, quando exigimos a alguém que entra de novo na nossa vida que repare todas as feridas que alguém, antes de si, nos provocou.
A melhor forma de esquecer um namorado é fazer por recordá-lo, muitas vezes."
Eduardo Sá