sexta-feira, janeiro 05, 2007

Morre o poeta... fica o pensamento!

Morre lentamente quem não viaja, quem não lê, quem não ouve música,
e quem não encontra graça em si mesmo.

Morre lentamente quem destrói o seu amor próprio,
e quem não se deixa ajudar pelos outros.

Morre lentamente quem se faz escravo dos seus hábitos,
percorrendo todos os dias o mesmo trajecto,
quem não muda de marca, quem não se arrisca a vestir uma nova cor
ou a conversar com quem não conhece.

Morre lentamente quem faz da televisão o seu refúgio.

Morre lentamente quem não é capaz de apaixonar-se,
quem não põe os pontos nos "is", quem perde o brilho sereno dos olhos
e quem transforma os sorrisos em bocejos.

Morre lentamente quem não vira a mesa quando se sente infeliz no trabalho,
quem não arrisca o certo pelo incerto para ir atrás de um sonho e
quem não foge, pelo menos uma vez na vida, dos conselhos "sensatos".

Morre lentamente quem passa os dias a queixar-se da sua má sorte
e da chuva que não deixa de cair.

Morre lentamente quem abandona um projecto antes de o iniciar,
quem não pergunta sobre um assunto que desconhece
ou não responde quando o interrogam sobre algo que ele sabe.

Evitemos a morte em doses suaves, recordando sempre que estar vivo exige
um esforço muito maior que o simples facto de respirar.

Pablo Neruda

2 Comments:

Blogger Joaninha said...

Acredita que é um dos meus poemas preferidos. E quanta verdade não está ali em cada verso...

3:15 da tarde  
Blogger P said...

Grandes palavras do Pablo Neruda...
Excelente evocação esta.
Parabéns

9:44 da tarde  

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